Beatriz Balen Susin é uma artista plástica que se reconhece pelo seu trabalho e pela determinação de ampliar seus conhecimentos. Sua dedicação à pintura a credencia a uma bolsa de estudos.
Iberê Camargo
[…] Beatriz não cria para o aquietamento. Ao contrário, somos instigados o tempo todo a uma espécie de revolta silenciosa contra a morte da poesia. Essa mesma poesia que já não encontramos nas dobras de uma existência contaminada pela ação. Se investigarmos com cuidado, descobriremos um certo desconforto em relação a tudo que pulsa. Sutil, no entanto. De insurgências que nascem não do grito, mas da tentativa de fazer brotar novamente o discreto espetáculo da verdade e da beleza. Cada traço ou intenção tem o vigor de uma catedral. E é exatamente por esse aspecto, que transcende a interpretação do ordinário, que se pode continuar buscando quase infinitamente o que lá se vai encontrar. Um mundo que reordena a realidade, fazendo incidir no corpo e na alma de alguns passantes uma procissão de seres que pertencem à sua mitologia pessoal. E aqui, talvez, esteja um dos maiores méritos de sua pintura de fisionomia universal: a capacidade de diluir a fronteira que nos separa do sonho. Encontramos figuras que, num primeiro momento, podem nos causar estranhamento. Mas, a um olhar mais atento, percebemos que elas pertencem ao inconsciente de todos nós. Personagens principais desse grande passeio subjetivo que chamamos de vida e morte.De insurgências que nascem não do grito, mas da tentativa de fazer brotar novamente o discreto espetáculo da verdade e da beleza. Cada traço ou intenção tem o vigor de uma catedral. E é exatamente por esse aspecto, que transcende a interpretação do ordinário, que se pode continuar buscando quase infinitamente o que lá se vai encontrar. Um mundo que reordena a realidade, fazendo incidir no corpo e na alma de alguns passantes uma procissão de seres que pertencem à sua mitologia pessoal. E aqui, talvez, esteja um dos maiores méritos de sua pintura de fisionomia universal: a capacidade de diluir a fronteira que nos separa do sonho. Encontramos figuras que, num primeiro momento, podem nos causar estranhamento. Mas, a um olhar mais atento, percebemos que elas pertencem ao inconsciente de todos nós. Personagens principais desse grande passeio subjetivo que chamamos de vida e morte.
Gilmar Marcílio
Filósofo e escritor
[…] Beatriz tem grande respeito pela composição. Ela começa imaginando o conjunto e os detalhes ao mesmo tempo. Inicia o trabalho com as cores escuras que lhe fornecem a estrutura interna do quadro; depois, avança marcando os contrastes dos espaços claros. Nunca usa as cores de modo isolado, mas opera a partir da dialética entre as mesmas, formando jogos contrários e contraditórios, e, desses jogos, vão nascendo simetrias ou assimetrias, os equilíbrios necessários para efetivar a unidade e a totalidade do quadro. E embora sua paleta esteja mergulhada em tons próximos dos escuros e, por isso, tenha elementos dramáticos, ela é também marcada por um voto de confiança no humano. Assim, a força da produção artística provém do próprio enigma da arte.[…] Ao seu modo, Beatriz funda a utopia do ser humano. Ela aceita angústia, a culpa, a vida, a morte, a violência, no seu nível mais radical, como próprios da condição humana. E busca, por meio de sua arte, porções secretas do humano, desse humano às vezes cercado de anjos e demônios, desse humano finito, solitário e, ao mesmo tempo, sereno e esperançoso.
Jayme Paviani
Professor de Filosofia da UCS, poeta e escritor
[…] Misere! Nas gravuras de Beatriz, é justamente o olhar de piedade, de misericórdia, a sustentar a coragem de ir ao fundo, ao avesso, à “antirrealidade”, na esperança do resgate. Nas suas gravuras, pode-se perceber o grito de piedade na postura de aceitação resignada, no reconhecimento da feiura do mal, primeiro passo de distância dos olhos a se levantarem para o caminho de retorno ao encontro da grande piedade – “[…] amor que move o sol e as outras estrelas” – como o olhar do filho pródigo sob o olhar do seu pai misericordioso. A coragem do avesso é, assim, sob o signo da misericórdia, redentora, como a descida de Jesus aos infernos.
Luiz Carlos Susin
Filósofo, teólogo e escritor
Beatriz Balen Susin se insere na tradição pictórica dos grandes coloristas. A cor é, inegavelmente, o elemento mais marcante na sua obra. E jamais funciona como “acessório”, no sentido de “colorir” uma forma; a cor é essência; é ela que estrutura e organiza suas criações, a ponte de a artista se inquietar profundamente quando não encontra ou ainda desconhece a cor primordial de determinada obra. Sua poiética é marcada por prazer?Inegavelmente. Entretanto, mais que isso, é ungida pela necessidade. Diariamente, como que cumprindo um ritual, a artista volta-se às superfícies das telas e papeis, aos vários pigmentos e tintas, dando forma às figuras que há tempos povoam seu imaginário, insuflando-lhes vida por meio de vigorosas cores.
Fruto da observação atenta do cotidiano e da fantasia, suas criaturas escancaram a incrível diversidade na aparente unidade, sugerem a solidão em meio à multidão, ao mesmo tempo em que atestam a crença e o interesse de Beatriz pelo humano.
Como uma antologia, a exposição apresenta alguns trabalhos marcantes da trajetória de Beatriz Balen Susin. Apresenta ainda, a série inédita de gravuras em metal intitulada Misere, produzida a partir da leitura atenta do Inferno de Dante Alighieri. Trata-se de uma rara oportunidade de observar o vigor e a maturidade de uma artista que há mais de quatro décadas se dedica ao ofício espartano e apaixonado do desenho e da pintura.
Paula Ramos
Crítica e historiadora da arte, professora do Instituto de Artes da UFRGS
“Pacto da Terra”, as paisagens de Beatriz Balen Susin
Beatriz Balen Susin (1946) expõe a série “Pacto da Terra”, telas que evocam a potência identitária do solo que nos contêm, plasmadas em imagens sinestésicas de imensa erudição plástica, e um testemunho contemporâneo da pertinência e da necessidade da arte da paisagem.
A série “Pacto da Terra” é composta de paisagens tomadas do real a partir de fotografias feitas pela artista em suas viagens pelo Rio Grande do Sul. É um ponto de partida. Outro ponto de partida é o da pintura a óleo, técnica que exige um corpo a corpo intenso que se dá no ateliê, longe da vibração continua da natureza; é necessária a reflexão e o congelamento das emoções que a natureza nos impõe. O terceiro ponto é o da composição e o dos formatos, é notável a divisão equilibrada entre a forma canônica da paisagem, quando a largura prevalece sobre a altura, e da forma quadrada, em que o equilíbrio impõe o abandono da percepção horizontal pela percepção: o desenho subjacente à pintura na estruturação da tela e aquele desenho sobreposto à pintura, com contornos incisivos, como que gravados sobre a superfície; dois modos para apreender o objeto inconsútil que é a paisagem. Mais um ponto de partida é a cor. A cor generosa, extravagante (por vezes), impositiva, sábia; a cor é um tema incomensurável nas paisagens de Susin, objeto de intensa admiração e exigente apreensão.
Porto Alegre, novembro de 2019.
Paulo Gomes
Artista visual e Professor
Bacharelado em História da Arte
PPGAV/UFRGS
De sete décadas, cinco delas foram vividas intensamente no universo da arte. Metaforicamente, o processo criativo da artista pode ser visto como um mergulho intenso ou uma imersão em águas profundas, por vezes agitadas, por vezes serenas; pinceladas vigorosas de cores expressivas construíram inúmeras séries de um mundo percebido e inventado pela artista. Diferentes materiais de criação como lápis, papel, pinceis, tinta e tela, instrumentos-próteses inseparáveis de suas vigorosas mãos, aliam-se ao pensamento criativo formado por uma vida plena de estudo. E nesse processo, surgiu uma das maiores artistas gaúchas, dona de uma obra expressionista inconfundível.
No conjunto da sua obra, Bea Balen debate o homem no seu tempo presente, mesmo que nele conste o seu tempo presente, mesmo que nele conste o seu passado ou seu futuro. Ou ainda, um universo construído, num tempo indefinido. Como poucos artistas, teve sua trajetória reconhecida por seus pares, os artistas, mas também tem o reconhecimento de filósofos, críticos de arte, jornalistas, ensaístas e poetas que reagem de forma sensível à produção existencialista da artista, que tem a condição humana como temática constante, seja da forma mais realista ou na sua potencialidade feminina.
Silvana Boone
Professora e Pesquisadora da UCS
Doutora em História, Teoria e Crítica da Arte
A poética da permanência na obra de Beatriz Balen Susin
Beatriz Balen Susin é uma artista que elegeu a arte como um compromisso com a verdade, e deixa claro, com sua expressividade agressiva e por vezes chocante, que a cada nova obra o homem renova o próprio ato de ver, de sentir, de comunicar e mergulhar no sublime jogo da arte.
O conjunto da artista impressiona pela sua fidelidade de como a fabrica a forma.
Sua produção mais recente, a exposição “No princípio… o desenho”, realizada na Galeria de Arte da Casa da Cultura de Caxias do Sul, pode ser definida como um “elogio ao desenho”. A artista, com excelência e maturidade artística, confere à linguagem um aspecto de artesania, e com o olhar e a sensibilidade que lhes são próprios, consegue uma fusão rara
entre suporte, técnica e temática.
Clóvis da Rolt
Poeta, Professor de História da Arte
Acadêmico do curso de Filosofia da UCS
® 2024 Bea Balen Susin - Todos os direitos Reservados